Behaviorismo e a obra Laranja Mecânica
A obra “Laranja Mecânica” conta a história do adolescente
Alex, que representa três características centrais do ser humano: desejo
sexual, violência e anseio pela liderança.
Alex tem seguidores, seus droogs, que são influenciados por
sua liderança. O grupo recebe certo reforço positivo quando bebem moloko
(leite, na linguagem nadsat) e sentem a necessidade de usarem de uma ultraviolência,
que se trata de um comportamento voluntário.
Diferente da violência, o desejo sexual não precisa de reforço.
Em certo momento, o grupo realiza um assalto em um hotel
fazenda e Alex acaba assassinando a proprietária, a polícia já estava a
caminho. Assim, o pequeno marginal é preso e recebe uma pena de 14 anos.
Alex aceita participar
de um tratamento chamado “método Ludovico” a fim de conseguir liberdade
instantânea, é levado a uma clínica para um tratamento, que consiste em
assistir filmes com cenas explícitas de violência (estímulo incondicionado)
enquanto um medicamento (estímulo condicionado) que provoca uma terrível
sensação de náusea é administrado.
Após receber alta, Alex se torna incapaz de cometer atos de
violência e sente inúmeras náuseas, tidas como reforço negativo. Enquanto
estava ocupado sentindo náuseas ele não podia se engajar em comportamentos
violentos.
REFORÇO POSITIVO
No condicionamento operante, o
reforço positivo envolve a soma de um estímulo de reforço seguido de um
comportamento que faz com que seja mais provável que o comportamento ocorra de
novo no futuro. Quando o resultado é favorável, o evento ou recompensa ocorre
após a ação, a resposta ou comportamento em particular será reforçado.
Se usado corretamente, o reforço
positivo pode ser muito eficaz. De acordo com a diretrizes da lista de
verificação comportamental publicada pela Universidade do Estado de Utah, o
reforço positivo é mais eficaz quando ocorre imediatamente após o
comportamento. também recomendável que o reforço seja apresentado com
entusiasmo e deve ocorrer com frequência.
Quanto menor a quantidade de
tempo entre um comportamento e a apresentação do reforço positivo, mais forte a
ligação feita entre ambos. Se um longo período é decorrido entre o
comportamento e o reforço, mais fraca a conexão será.
Ele é reconhecido como um método
de treinamento a partir de um sistema de recompensas. Acontecendo após um
desempenho realizado, como um estímulo, reconhecimento, apoio motivacional por
aquela ação. A técnica do reforço positivo se assemelha a uma recompensa, só
que mais precisa, um reforço positivo é capaz de fazer com que uma pessoa ou um
animal se esforce para receber algo.
Está presente tanto no cotidiano
dos seres humanos quanto dos animais, que, neste caso, é usado para treinar e
domesticar algumas espécies. A técnica consiste em dar-se uma recompensa, pela
realização de um comportamento adequado ou esperado, para estimular a
continuação desta conduta. Também é muito importante saber reconhecer um
estímulo positivo, como por exemplo, quando alguém recebe um presente e
agradece com real entusiasmo, esse gesto acaba sendo um estímulo positivo para
quem deu o presente.
Relacionamos a ideia do
reforçador positivo no comportamento operante de Alex e de seus companheiros na
questão de uso de violência, quando eles vão a leiteria e bebem o leite com
drogas. Isso de certa forma os motiva a usarem de uma violência absurda para
saciar o seu desejo de uso da força - esse reforço é bem interessante - e é notável
que o uso da violência por eles praticada trata-se de um comportamento
voluntário.
REFORÇO NEGATIVO
Reforço negativo é um termo
descrito por Skinner em sua teoria de condicionamento operante. Em reforço
negativo, uma resposta ou comportamento é reforçada por parar, remover ou
evitar um resultado negativo ou estímulo aversivo.
Estímulos aversivos envolvem
algum tipo de desconforto, seja físico ou psicológico. Uma das melhores
maneiras de lembrar do reforço negativo é pensar nisso como algo que está sendo
subtraído da situação. Reforço negativo pode ser uma forma eficaz de reforçar o
comportamento desejado.
No entanto, é mais eficaz quando
os reforços são apresentados imediatamente a seguir um comportamento. Quando há
um período decorrido entre o comportamento e o reforçador, a resposta é enfraquecida.
Alex é submetido ao tratamento Ludovico
baseado na técnica de reforçamento negativo da caixa de Skinner que busca a
extinção de um comportamento na forma de punição pelo ato, é realmente o que
acontece: Alex não perde seus desejos, porém, toda vez que eles surgem ele é
punido sentindo ânsia de vomito não conseguindo tomar nenhuma atitude.
ESQUIVA
Os reforços mantêm os
comportamentos por trazerem consequências as quais os organismos procuram
quando emitem uma resposta, e no caso do Reforço Negativo, o organismo quer
fugir ou se esquivar de algo aversivo. Se o seu comportamento resulta no êxito
dessa fuga ou esquiva, grandes são as chances de ser mantido e ter sua
frequência aumentada.
Na esquiva o indivíduo adota um
comportamento para prevenir a ocorrência ou reduzir a magnitude do segundo
estímulo que também é aversivo. A esquiva se caracteriza pelo reforço negativo
condicionado (aprendido) e a ação que o reduz é reforçada pelo condicionamento
operante.
Era esperado com a realização do
tratamento que Alex se sentisse mal todas as vezes que se engajasse em um
comportamento violento. E de fato isso aconteceu. Depois de sair da prisão Alex
se sente mal em inúmeras oportunidades em que tem a chance de se engajar em
comportamento violento ou quando presencia alguma cena de violência. As fortes
sensações de náusea sentidas por ele o incapacitavam de cometer atos de violência.
Enquanto está ocupado sentindo náuseas ele não pode se engajar em
comportamentos violentos. Trata-se aqui de incompatibilidades entre
comportamentos do mesmo repertório comportamental, e venciam aqueles
comportamentos que tinham maior força. No caso de Alex, venciam as náuseas, e
para se esquivar de senti-las é necessário não cometer nenhuma violência, e
assim, num comportamento de esquiva ele o faz.
FUGA
Já o processo der fuga, quando
não se evita o estímulo aversivo, mas se foge dele depois de iniciado. Neste
caso, o comportamento reforçado é aquele que termina com um estímulo aversivo
já em andamento. A diferença é sutil. Se posso colocar as mãos nos ouvidos para
não escutar o estrondo do rojão, este comportamento é de esquiva, pois estou
evitando o segundo estímulo antes que ele aconteça. Mas. se os rojões começam a
pipocar e só depois apresento um comportamento para evitar o barulho que
incomoda, seja fechando a porta, seja indo embora ou mesmo tapando os ouvidos,
pode-se falar em fuga.
No caso da esquiva, há um estímulo
condicionado que antecede o estímulo incondicionado e me possibilita a emissão
do comportamento de esquiva. Uma esquiva bem-sucedida impede a ocorrência do
estímulo incondicionado. No caso da fuga, só há um estímulo aversivo incondicionado
que, quando apresentado, será evitado pelo comportamento de fuga. Neste segundo
caso, não se evita o estímulo aversivo, mas se foge dele depois de iniciado.
Na obra laranja mecânica, o
mecanismo de fuga é percebido em Alex após participar do método Ludovico,
algumas cenas de violência explicita, eram acompanhadas da nona sinfonia de
Beethoven, a qual Alex tanto admirava, mas após o tratamento, ao ouvir sentia
enjoos tão fortes que o fizeram querer se matar e tanto que o fez, pulando da
janela.
EXTINÇÃO
Extinção, na Psicologia,
refere-se ao enfraquecimento gradual de uma resposta condicionada que resulta na
diminuição ou desaparecimento do comportamento. Em outras palavras, o
comportamento condicionado eventualmente para.
No condicionamento clássico,
quando um estímulo condicionado é apresentado sozinho, sem um estímulo
incondicionado, a resposta condicionada acabará por cessar. Por exemplo, na
experiência clássica de Pavlov, um cão foi condicionado a salivar ao som de um
sino. Quando o sino foi repetidamente apresentado sem a apresentação dos
alimentos, a resposta de salivação, eventualmente, tornou-se extinta.
Em pesquisa com o condicionamento
clássico, Pavlov descobriu que, quando a extinção ocorre, isso não significa
que o sujeito retorna ao seu estado incondicionado. Várias horas ou mesmo dias
decorrentes após uma resposta ser extinta pode acontecer uma recuperação
espontânea da resposta. A recuperação espontânea refere-se ao reaparecimento
repentino de uma resposta anteriormente extinta.
Muitas pessoas, ao longo de suas
vidas, desenvolvem medos que permanecem por anos e, da mesma forma que elas
puderam aprender essas respostas, elas também podem aprender a não ter mais
medo, através da extinção respondente. Para que isso aconteça, essas pessoas
devem se expor repetidas vezes ao estímulo eliciador de medo, desassociado com
o estímulo incondicionado que elicia tais respostas. Uma pessoa que desenvolveu
medo de elevador, por exemplo, à medida que entra em contato com o objeto
aversivo e nada de ruim acontece, o estímulo “elevador” passa a perder a função
eliciadora de respostas de ansiedade. Porém, é justamente essa necessidade de
se expor ao estímulo aversivo que faz com que pessoas sustentem um medo durante
toda uma vida. A pessoa que teve o estímulo “elevador” emparelhado com
estímulos aversivos incondicionados se esquivará sempre que possível desse
estímulo, preferindo sempre subir de escada. Assim, a falta de contato retarda
ou impede a extinção.
O método Ludovico pretende acabar
com o comportamento agressivo de Alex a partir da extinção.
PUNIÇÃO
Reforço incentiva o
comportamento, enquanto a punição desencoraja. A punição é um procedimento que
produz a diminuição da frequência da resposta punida. Ela pode ser de dois
tipos (positiva ou negativa) e essa distinção depende da consequência para a
resposta punida. Se há um acréscimo de estímulo caracterizamos como positiva, e
diferentemente disso, se a consequência é a retirada de estímulo dizemos que é
negativa. Assim, a apresentação de um estímulo aversivo após a emissão da
resposta é uma punição positiva e a retirada de um reforçador positivo após a
ação do indivíduo é uma punição negativa.
Apesar de a punição, a extinção e
o reforço negativo serem princípios comportamentais diferentes, eles se
relacionam. A punição e a extinção são procedimentos que tem em comum o
enfraquecimento da resposta, no entanto, produzem efeitos colaterais
(basicamente sentimentos) diferentes. Assim, enquanto a punição enfraquece a
resposta indesejada rapidamente e gera sentimentos de medo e ansiedade, a
extinção tem seu efeito de supressão da resposta em longo prazo e gera
frustração. Ambos podem gerar raiva. Além disso, a punição e o reforçamento
negativo podem estar relacionados. Uma pessoa, ao ter uma resposta punida
experimentará com isso, uma condição aversiva. Ela poderá, diante disso, emitir
uma resposta de fuga/esquiva da situação que será reforçada negativamente pela
retirada da condição aversiva. Assim, diante de uma punição, o indivíduo tem a
possibilidade de emitir uma resposta que amenize a aversividade da punição ou a
evite.
Anteriormente, no decorrer do condicionamento
com imagens, as cenas vinham acompanhadas pela música de Beethoven, até há uma
menção no filme na qual o protagonista fala que é uma lástima eles usarem essa
música, mas o médico decide mantê-la no tratamento, pois, a mesma poderia
servir como elemento de punição. Percebe-se também os enjoos como punição pelo
estímulo de comportamentos violentos.
DISCRIMINAÇÃO
Discriminação de estímulo segundo
a Psicologia ocorre quando há consequências diferentes para o mesmo
comportamento, dependendo da situação. Um exemplo de uma discriminação de
estímulo é uma piada que poderia ser contada com o resultado de risos entre um
grupo de amigos, mas a mesma piada pode ter críticas se ela é contada em um
ambiente como uma igreja.
A discriminação é formada apenas
quando a resposta de comportamentos semelhantes é diferente na mudança de
situações ou ambientes. Esta discriminação poderia ser o resultado de atitudes
de pares em relação ao comportamento ou pode ser o resultado de uma intuição
que diz que o comportamento não é apropriado em certas situações. É a
capacidade de perceber diferenças entre estímulos e responder diferentemente a
cada um.
Um exemplo de discriminação é
quando Alex e seus droogs estão no ambiente onde era vendido o moloko, uma
mulher de um grupo de artistas começa a cantar, um de seus “comparsas” desdenha
como normalmente age o a gangue, em seguida é agredido por Alex, que exige
respeito pelo fato de ter reconhecido a música, a admirada por ele nona
sinfonia de Beethoven.
GENERALIZAÇÃO
A discriminação de estímulo é o
que acabará por levar à generalização de estímulos. A generalização é quando
uma pessoa vai responder da mesma forma a dois estímulos diferentes que podem
ter pequenas diferenças entre eles. Uma criança não sabe a diferença entre
raças de cães, mas muitas vezes vai saber que diferentes raças são todas
considerados cães. Elas não farão a discriminação entre um pastor alemão e um
Chihuahua, mas vão saber que ambos são cães. Muitas vezes elas vão apontar o
fato de que os cães são cães, mas também podem identificá-los como cães
pequenos ou grandes usando a discriminação de estímulos. Na generalização de
estímulos, a emissão de resposta já é condicionada onde se percebe semelhança
entre os estímulos.
A generalização acontece na obra
com relação a violência, ao ser submetido ao “tratamento”, Alex generaliza toda
forma de violência aos enjoos.
REFERENCIAS
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